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Data de Publicação 28/05/2025 - 17:25 Atualizado em 28/05/2025 - 17:26 541 visualizações

Unipampa realiza 1º Seminário de Formação Técnica-Pedagógica para professores do campo e das águas

Evento marca o início de formações voltadas a professoras/es de escolas do campo, das águas e das florestas, promovendo a integração entre universidade, escola e comunidade.
Por Rayssa Mambach

Nos dias 23 e 24 de maio, o Campus Dom Pedrito da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) recebeu o 1º Seminário de Formação das Equipes Técnica-Pedagógicas, com o tema “Educação do Campo em Movimento: Escola da Terra e Pampa Alfabetizado”. O evento marcou o início de dois cursos de formação continuada voltados a professores que atuam em escolas do campo e, pela primeira vez, em escolas das águas, localizadas em regiões ribeirinhas e costeiras.

A programação teve início com uma mística, um ritual simbólico de valorização da terra e das raízes culturais, seguido pela apresentação musical “Não Vou Sair do Campo” e “Construtores do Futuro”. O encerramento contou com a canção “Canção da Terra”, reforçando o vínculo entre educação, território e identidade.

A cerimônia de abertura contou com a presença da vice-reitora da Unipampa, Franceli Brizolla; do coordenador de Extensão da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), Udo Sinks; do coordenador acadêmico do Campus Dom Pedrito, professor Algacir José Rigon; além de docentes, formadores e cursistas dos programas.

 

Escola da Terra e Pampa Alfabetizado: formação com os pés no território

Financiados pelo Ministério da Educação (MEC), por meio da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), os cursos Escola da Terra e Pampa Alfabetizado serão ofertados ao longo de 2025. A formação será realizada em regime de alternância, com 180 horas totais, sendo 100 horas de atividades na universidade (tempo-universidade) e 80 horas nas escolas (tempo-escola), promovendo a integração entre teoria e prática.

Segundo o coordenador do programa de extensão “Pampa Alfabetizado”, professor Guilherme Gonzaga, que também já coordenou a 1° edição da Escola da Terra, o grande diferencial da proposta é levar a universidade até as comunidades. Atualmente, a coordenação do programa Escola da Terra está a cargo do professor Jonas Anderson Simões das Neves. De acordo com Neves, “nesta edição, o programa manteve a mesma estrutura de organização de encontros nos territórios e de atividades de Tempo Comunidade, mas procurará dar uma atenção maior à produção de materiais didáticos para as escolas”. A previsão é de que os cursos tenham duração de seis meses.

A segunda edição da Escola da Terra abrangerá os municípios de Bagé, Candiota, Hulha Negra, Caçapava do Sul, Rosário do Sul e Alegrete, atendendo 120 professores de escolas do campo. Já o Pampa Alfabetizado, vinculado ao programa nacional Criança Alfabetizada, contemplará 200 professores de escolas rurais e das águas nos municípios de São Lourenço do Sul, São José do Norte, Rio Grande, Canguçu, Piratini, Santana da Boa Vista, São Gabriel e Santa Maria.

Os cursos atenderão estudantes oriundos de diversas realidades socioterritoriais, como famílias de pescadores artesanais, comunidades quilombolas, o povo pomerano, pecuaristas familiares e assentados da reforma agrária. Para o professor Guilherme Gonzaga, a iniciativa é muito importante para o fortalecimento da educação territorializada: “A proposta valoriza a formação continuada dos professores com foco na tríade universidade, escola e comunidade. Isso gera impacto direto na qualidade da educação básica e na valorização dos saberes dos territórios”, destacou o professor. 

O projeto Pampa Alfabetizado conta, além da coordenação de Gonzaga, com a participação da professora Denise da Silva Goerch e da Técnica-Administrativa em Educação (TAE) Isabel Cristina de Mello. Já a equipe da Escola da Terra, além da coordenação do professor Neves, conta com a docente Andréia Nunes Sá Brito e com a professora e egressa do curso de Educação do Campo, Sinara da Silva Chagas.

 

Poesia que nasceu no seminário

Durante o evento, o professor Guilherme Gonzaga, que esteve à frente da organização do Seminário, escreveu a poesia abaixo, inspirada pelas trocas, afetos e esperanças vividas nos dois dias de formação:

 

Professores e Professoras da Terra, das Águas e das Florestas: A Educação do Campo em Movimento, Cuidando da palavra, da Vida, da Terra e do Pampa

Tudo aconteceu num certo dia,

Quando o mundo vivido,

Passou, também, a ser lido e escrito.

No princípio, o verbo se fez ação,

E com terra e sementes desenhamos nossos lugares:

era o campo, as águas e as florestas.

 

E a natureza,

fez os campos, fez florestas,

fez os bichos, fez o mar...

Fez, por fim, então, a rebeldia,

que nos dá a garantia,

que nos leva a gritar:

 

Não vou sair do campo, pra poder ir pra escola.

Educação do campo é direito e não esmola.

 

Queremos Escolas do Campo,

que tenham a ver com a vida, com a gente,

querida, organizada, conduzida coletivamente.

Somos construtores do futuro, sim senhor,

com saberes, com coragem e com amor.

 

Na ciranda da vida, de mãos dadas a caminhar,

onde há sonho e esperança, a educação faz brotar.

 

Uma educação que não ignora o chão que pisa,

que reconhece o Bioma Pampa, sua beleza e sua brisa,

suas águas, seus campos, suas espécies e saberes,

e entende que defender o território

é também cuidar da vida e dos seres.

 

Porque a linguagem nos constitui, nos tece e nos faz ser.

Quando lemos e escrevemos a nossa própria história,

reforçamos nossa identidade e rumamos em direção à liberdade.

Mas pra isso, é preciso escutar —

uma escuta sensível, atenta, amorosa e coletiva —

que entenda que, na balança da vida,

nem tudo é possível,

mas na nossa cota, nem tudo é impossível.

 

Eu quero uma Escola do Campo,

que não enxergue apenas equações,

que tenha como chave mestra o trabalho e os mutirões.

Que forme sujeitos críticos, que olhem pro horizonte,

e ajudem a proteger a vida, da planície até o monte.

 

O povo camponês, o homem e a mulher,

o negro quilombola com seu canto de afoxé.

Pescadores, pomeranos, quilombolas, indígenas e assentados,

nesta luta estão de pé.

 

De tantos cantos deste chão sulino,

chegaram saberes, rostos e caminhos.

Do Pampa que se estende sem fim,

das águas, das matas, do campo, do jardim.

 

De Rio Grande e São José do Norte,

vieram as redes, a cebola, os barcos,

os bordados e as batidas fortes

do som mais alto, que faz o coração vibrar.

 

De Canguçu, a terra da agricultura familiar,

vieram sementes e alimentos

que nos fizeram sentir no peito

o cheiro da terra e do sustento.

 

De Santana da Boa Vista,

uma bandeira que nos anima a caminhar,

símbolo de resistência e luta,

que nos lembra que não podemos parar.

 

De São Lourenço do Sul,

vieram as PANCs — sabor da diversidade,

e os livros que contam a história viva

da educação do campo com dignidade.

 

Piratini nos brindou com a cartografia social,

com as arpilleras que costuram memória,

mostrando que escola e comunidade,

juntas, escrevem uma nova história.

 

Santa Maria, da boca do monte,

trouxe um pedaço de seu território,

suas belezas, seus caminhos,

seu abraço forte e acolhedor.

 

São Gabriel, cidade dos carreteiros,

onde o boi é motor e guia os roteiros,

nos animou a caminhar,

nos ensinou que juntos podemos sonhar.

 

Eu quero uma Escola do Campo,

que não tenha cercas, que não tenha muros,

onde iremos aprender a sermos construtores do futuro.

Onde iremos aprender a sermos construtores do futuro.

 

Bagé, Caçapava do Sul e Hulha Negra, com Candiota,

trazem o calor da luta que nunca se esgota.

De Alegrete e Rosário do Sul ecoa um canto forte,

tecendo resistência, plantando vida e sorte.

 

Eu quero uma Escola do Campo,

onde o saber não seja limitado,

que a gente possa ver o todo e compreender os lados.

 

Cultura e produção, sujeitos da cultura,

a nossa agricultura, pro bem da população.

Construir uma nação, construir soberania,

pra viver o novo dia, com mais humanização.

 

Quilombolas, guardiões da memória e da vida,

Pomeranos, sementes de cultura erguida.

Pescadores que tecem redes e sonhos no mar,

Assentados que fazem a terra pulsar.

 

Madre terra, nossa esperança,

onde a vida dá seus frutos,

teu filho vem cantar.

Ser e ter o sonho por inteiro,

ser sem-terra, ser guerreiro,

com a missão de semear

à terra, terra.

 

Quem vive da floresta, dos rios e dos mares,

de todos os lugares onde o sol faz uma fresta.

Quem a sua força empresta, nos quilombos, nas aldeias,

e quem na terra semeia, venha aqui fazer a festa!

 

O Escola da Terra e o Pampa Alfabetizado,

não são apenas projetos, nem passos isolados,

são a Educação do Campo em Movimento,

que dialoga com o território,

que semeia consciência ambiental,

e que fortalece a luta pela preservação

do Bioma Pampa e brada por justiça climática global.

 

Porque escrever a própria história é também cuidar,

é defender o que nos dá vida:

o campo, a água, o pasto, o céu,

o vento, o chão, o fruto, o mel.

 

Mas, apesar de tudo isso,

o latifúndio é feito um inço

que precisa acabar.

Romper as cercas da ignorância,

que produz a intolerância,

terra é de quem plantar,

à terra, terra!

 

Eu quero uma Escola do Campo,

que não tenha cercas, que não tenha muros,

onde iremos aprender a sermos construtores do futuro.

Onde iremos aprender a sermos construtores do futuro.

 

Nos encontros, nos risos, nas rodas de partilha,

se ergue um futuro, se acende uma trilha.

Gratidão a cada mão, a cada passo presente,

 

Seguimos, lado a lado, no compasso da união,

celebrando a diversidade,

com poesia, com luta,

com arte e poesia,

com música e dança, cultivando uma Educação do Campo em Movimento,

onde se possa aprender com alegria,

porque educar também é semear liberdade.

 

Com inspirações nas músicas:

Canção da Terra de Pedro Munhoz 

e Construtores do Futuro e Não Vou sair do Campo de Gilvan Santos.

 

— Guilherme Gonzaga, docente do curso de Educação do Campo e coordenador do projeto de extensão Pampa Alfabetizado

 

    • Foto com todos os participantes do Seminário em pé, centralizados, olhando para a foto, à frente um cartaz em alusão ao evento
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    • Imagem da sala do evento, com carteiras escolares dispostas pela sala, com os participantes sentados formando um círculo na sala
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    • Vice-reitora da Unipampa e demais representantes posicionados para o registro ao centro da sala
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    • Foto da mesa de abertura do evento, enquanto a vice-reitora faz uma fala
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    • Foto da sala, enquanto uma transmissão online é apresentada durante o seminário
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    • Foto de palestrante realizando uma fala durante o evento
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