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Data de Publicação 26/02/2025 - 15:57 Atualizado em 26/02/2025 - 16:39 681 visualizações

Egressa de Ciência da Computação da Unipampa inicia pós-doutorado na França 

Isadora Ferrão é uma das duas egressas da Unipampa a iniciar o curso no exterior em 2025
Por Sofia Viero Sorgetzt

Duas egressas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) iniciam neste ano seus pós-doutorados no exterior. Isadora Ferrão, egressa do curso de Ciência da Computação do Campus Alegrete, na Universidade de Bretanha Ocidental, em Brest, na França, e Karine de Mattos, graduada em Medicina Veterinária no Campus Uruguaiana, na Universidade Harvard, em Cambridge, nos Estados Unidos.

Em entrevista, as duas pesquisadoras destacaram a importância da formação ofertada pela Unipampa como impulso para a trajetória na pós-graduação, prosseguindo no caminho da pesquisa iniciado durante a faculdade. No segundo texto desta série, Isadora Ferrão conta sobre o caminho que percorreu desde que soube que o Campus Alegrete da Unipampa estava sendo construído em frente à escola onde cursou o Ensino Fundamental.

A alegretense que sonhava em fazer faculdade desde a idade pré-escolar, antes da existência de uma instituição pública na cidade, é enfática ao dizer que a Unipampa foi a sua base. Aos 8 anos, Isadora começou a testemunhar a construção do Campus Alegrete da Unipampa em frente à escola Lauro Dornelles, onde estudava. Ao longo dos anos em que cursava a educação básica e via aquele campus surgindo, Isadora dizia para sua mãe repetidamente “eu vou estudar ali”. 

O sonho de infância virou realidade logo após Isadora concluir o ensino médio, ingressando em Ciência da Computação, “onde tudo começou”, como ela faz questão de deixar claro. Na graduação, Isadora buscou aproveitar todas as oportunidades que a universidade lhe desse. “Fiz ensino, pesquisa, extensão, estágio. Brinco que só não abri uma empresa”, referindo-se, neste último item, à possibilidade ofertada pela incubadora do PampaTec.

Isadora reforça a importância da Unipampa na sua cidade natal porque não teria condições financeiras para fazer faculdade fora de Alegrete. A pesquisadora afirma que a qualidade da Unipampa e a qualificação dos seus professores lhe deram alicerce para ingressar na pós-graduação. Coragem e senso crítico para saber o que queria e definir linhas de pesquisa foram características que os professores ajudaram Isadora a desenvolver, como ela conta. “Eles abriram todas as portas que podiam para eu começar em conferẽncias, começar a publicar meus artigos, me deram uma assistência muito especial. Lembro de ter várias revisões de artigos. Me ensinaram como fazer pesquisa. Foram referência para que eu quisesse fazer mestrado e doutorado e inspirações para eu querer vida acadêmica”. 

A partir da necessidade da iniciação científica, Isadora precisou definir qual assunto ela gostava para pesquisar, buscando temas nos quais seus professores tinham expertise. Após receber uma sugestão sobre o tema da cibersegurança, procurou o professor Diego Kreutz, que Isadora descreve como alguém que lhe ensinou tudo que ela precisava saber na área da pesquisa, da escrita científica à ética. Já na graduação, Isadora descobriu que “amava” a pesquisa, especialmente em cibersegurança, e que a atividade lhe fazia “brilhar os olhos”, na definição dada pela própria Isadora.

Os financiamentos e auxílios dados pela Unipampa possibilitaram a Isadora viagens para conferência em vários estados. A empolgação com a pesquisa em cibersegurança fez Isadora influenciar muitos colegas a procurarem o professor Diego Kreutz para a iniciação científica.    

A jovem pesquisadora expressa sua gratidão pela chance de mudar a própria realidade e alcançar objetivos por meio do estudo em uma universidade pública. Isadora também se mostra grata às pessoas que acreditaram nela, sempre a incentivando, sem duvidar da sua capacidade, mesmo que alguns fatores ainda parecessem limitadores, como na época em que a hoje pós-doutoranda ainda não sabia falar inglês. A barreira de desconhecimento do idioma foi quebrada rapidamente durante o mestrado, quando começou, a partir de projetos, a formar vínculos com os professores da Universidade de Bretanha Ocidental, na França. 

O elo formado com os pesquisadores franceses durante o mestrado e doutorado cursados por Isadora no campus de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo) rendeu a ela o convite para cursar o pós-doutorado também na Universidade de Bretanha Ocidental, onde já havia cursado parte do seu doutorado. No pós-doutorado, Isadora vai prosseguir as pesquisas sobre cibersegurança aplicada a carros voadores, tema que desenvolve desde o mestrado. O meio de locomoção já é uma realidade, com previsão de se tornar acessível ao público já em 2026, como no caso do Eve, modelo desenvolvido pela Embraer. Diagnóstico, decisão em tempo real e restauração de aeronave com uso de inteligência artificial são o foco das pesquisas de Isadora dentro da cibersegurança em carros voadores.

O desejo de retribuir à sociedade o que a universidade pública lhe proporcionou levou Isadora a atuar em projetos de extensão ainda na graduação com atividades em escolas. Oportunidades de financiamentos e premiações que levaram Isadora a representar o Brasil em eventos no exterior desde o período do mestrado e do doutorado incentivaram ainda mais Isadora em suas ações de extensão. Um mês antes da defesa da sua tese, Isadora representou o Brasil na Rússia no BRICS Young Innovator Prize 2024, para o qual foi selecionada via chamada conduzida pela Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC). Isadora competiu na categoria Palladium in Future Technologies com dezenas de jovens talentos dos dez países integrantes do BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã e Egito. Além desse evento, Isadora foi selecionada em fevereiro de 2024 para participar do Condor Camp, imersão anual realizada no México, reunindo jovens universitários de alto potencial. O evento proporciona um ambiente de discussão sobre os problemas mais urgentes do mundo e os desafios futuros da humanidade, além de promover o desenvolvimento de habilidades essenciais para enfrentá-los e solucioná-los. Unindo essas experiências com a vontade de compartilhar conhecimento e oportunidades, Isadora dá palestras em escolas públicas e decidiu que a cada bolsa de estudos que ganhasse, ela iria mentorear cerca de dez brasileiros para competirem por essa mesma bolsa. A pesquisadora também atua como líder de marketing do Grupo de Alunas de Ciências Exatas (Grace) da USP, que tem diversas iniciativas de empoderamento e incentivo para o público feminino na área de ciências exatas. Isadora também é embaixadora Brasil do Technovation Girls, programa onde meninas de 8 a 18 anos aprendem a desenvolver aplicativos móveis e têm a possibilidade de participar de um desafio internacional. O grupo em que Isadora atua tem mais de 80% das integrantes vindas de escolas públicas.

O professor Diego Kreutz, orientador de Isadora na graduação, enaltece as conquistas da alegretense: “acredito que o exemplo da Isadora seja muito inspirador para todos os nossos alunos e comunidade. Tenho orgulho de ter sido orientador dela e transformado a Isadora em uma pesquisadora de destaque”.

Leia também a primeira reportagem desta série, sobre a egressa de Medicina Veterinária Karine de Mattos, pós doutoranda em Harvard, neste link.

    • Foto de Isadora falando em pé no evento do BRICS.
      Isadora no evento do BRICS em 2024.
    • Foto de Isadora na defesa de sua tese falando em pé para a banca avaliadora.
      Isadora na defesa de sua tese na USP.
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